I walked in a little shy. If I could absorb some of the confidence that those gorgeous women in the posters on the wall were lavishing, I would never have self-esteem problems again. I stood quietly there for a while, half bashful, half waiting to be approached, as usually happens when one is the client. I was hoping someone would come and talk to me, ask me what brought me there, how they could be of assistance. Nothing happened. Both the clients, one waiting for the hair dye to dry, the other with her locks in the blow dryer, looked at me. The guy who was drying her hair too, but he pretended he didn’t. This is going to be interesting, I thought.
A few seconds later, the young man who came in caught my eye. He wore the white, rubber boots of a butcher, a long-sleeve blue shirt (the oppressive heat outside didn’t seem to bother him), and jeans punched into his boots. He was also wearing a cap turned backward, with some of his blond hair stuck in front of his eyes, blocking his sight, which distressed me just a bit.
He came through the door and headed straight to the back of the room, which made me think that, even not looking like a hairstylist, he worked there.
After a few good minutes being ignored, I put on the best shameless version of myself, which sometimes gives the air of grace, and asked, “do you do haircuts here?” The young man holding the hair blower once again pretended he didn’t hear me. I asked again, louder to get past the noise barrier, not knowing exactly who I was talking to. At last, he decided to babble a few words: “that’s your man, you can talk to him”, and pointed with his chin to the young man in the cap.
The young man in white boots came towards me. Huh, the butcher is really the hairdresser. Unlike his colleague, he was very nice and told me that he was just passing by, that he worked there on Saturdays only. It was Thursday. “When would you like to have it cut?” “I’m leaving Cuba tomorrow,” I said, somewhat resigned and hopeless. The reaction came quickly, to my surprise. “Okay, wait a minute. I will do it today.”
I waited happily. More at ease in the room, I realized that I liked the music that was playing on the radio, with dramatic lyrics of love and one of those catchy melodies. It was not long before I started humming.
I explained how I wanted it cut, “I just want to trim the ends. You can use the clippers in back, as I like it very short.” “Dale, dale,” was all he would say. I took off my glasses so they wouldn’t disturb the scissors. Short-sighted as I am, I could only see a blur in the mirror and wondered if it was right decision to trust my hair so blindly to someone I didn’t know.
I was wondering why it was taking him so long to turn the clippers on, until I realized there weren’t any. He did everything with the scissors. Click, click, click, man, when was the last time I had scissors working so close to me at such a frantic pace?
Someone came in and asked if he could cut her hair later. “No, I only work here on Saturdays! I’m just doing Christiane’s because she’s from Brazil and she’s leaving tomorrow. ” Being a tourist brought me privileges with the hairdresser in Camagüey too.
Thirty minutes later, the click, click, click ended. Soon I felt a brush on the back of my neck and on my ears, which almost didn’t help at all to remove the hair, as usual. Anxiously, I put on my glasses and smiled.
“How much do I owe you?”
“1 CUC”.
“Do you have change for a 10?”
It took him a while to come back and hand me five 1 CUC bills – the equivalent of about US$ 5 – and others bills that totaled 75 CUP. “Here in Cuba, we are always doing math. We’re good at it! “He said, with some pride. He assured me that I could use Cuban pesos even being a tourist.
I left the room singing the music of the radio, with a new hair style, renewed confidence and glad to have, for the first time in two weeks in Cuba, some Cuban pesos that would give me the illusion that, for my last 24 hours in the island, I could feel more Cuban than tourist.
Entrei um pouco tímida. Se pudesse absorver um pouco da confiança que aquelas mulheres deslumbrantes dos pôsteres na parede esbanjavam, é certo que nunca mais teria problemas de auto-estima. Entrei e fiquei ali parada, meio que por vergonha, meio que por estar acostumada a ser abordada quando entro em algum lugar. Esperava que alguém viesse falar comigo, perguntasse o que me levava ali, como podiam me ajudar. Nada. As duas clientes que estavam sendo atendidas, uma esperando a tintura do cabelo secar, a outra com as madeixas ao vento quente do secador, me olharam. O rapaz que secava o cabelo também, mas deu uma disfarçada de leve. Hum, vai ser interessante isso aqui.
Logo, entrou um moço pela porta que me chamou a atenção. Calçava galochas de borracha branca, de açougueiro. Vestia camisa de manga comprida meio azul, mesmo com o calor abafado que fazia, e calça jeans com barra socada nas botas. Trazia boné virado para trás e uns fios de cabelo desordenados embaixo, umas mechas loiras, dando um pouco de aflição, pois atrapalhavam a visão.
Passou pela porta e se dirigiu diretamente para o fundo do salão, o que me fez pensar que, mesmo sem pinta de cabeleireiro, talvez trabalhasse ali.
Depois de já bons minutos de pé sendo ignorada, me fiz valer da cara de pau que às vezes dá o ar da graça, e perguntei: “cortam cabelo aqui?” O moço de secador na mão me olhou de novo com indiferença. Perguntei uma vez mais, com voz mais alta pra ultrapassar a barreira do barulho, sem saber exatamente com quem estava falando. Até que ele resolveu balbuciar umas palavras: “é ele quem corta, pode falar com ele”, e apontou com o queixo pro moço do boné.
Logo voltou o rapaz das botas brancas. Caramba, o açougueiro é mesmo o cabeleireiro. Ao contrário do colega, ele, muito simpático, me disse que estava de passagem e que trabalhava ali somente aos sábados. Era quinta-feira. Quando você quer cortar? “Vou embora de Cuba amanhã”, eu disse, meio resignada e sem esperanças. A reação veio rápida, pra minha surpresa. “OK, espere um minuto que te atendo hoje”.
Alegre, esperei. Já começava a me sentir mais à vontade no salão e percebi que gostava da música que tocava, com letra dramática de amor e melodia que pega fácil. Não tardou muito pra começar a cantarolar.
Expliquei como queria o corte, “só quero aparar as pontas. Pode usar a maquininha atrás, que gosto assim, bem curtinho”. “Dale, dale”, era tudo que me dizia. Tirei os óculos pros aros não atrapalharem a tesoura. Míope que sou, via só um borrão no espelho e me perguntava se fazia bem em confiar-lhe meu cabelo tão cegamente.
Estranhei que não ligava a maquininha nunca, até me dar conta que não havia uma. Fazia tudo com a tesoura. Tec tec tec, nossa, há quanto tempo não escutava uma tesoura tão perto de mim num ritmo tão frenético.
Alguém entrou e perguntou se podia cortar mais tarde. “Não, só sábado! Só estou cortando o da Christiane porque ela é do Brasil e vai embora de Cuba amanhã”. Ser turista me trouxe privilégios também com o cabeleireiro de Camagüey.
Trinta minutos mais tarde, o tec tec tec terminou. Logo senti uma escova na nuca e nas orelhas que em quase nada ajudou a tirar os cabelinhos, como é de praxe. Ansiosa, coloquei os óculos e sorri.
“Quanto te devo?”
“Um CUC”.
“Tem troco para 10?”
Demorou um pouco pra voltar e me entregou cinco notas de 1 CUC (1 CUC = US$1) e outras mais que totalizavam 75 CUP. “Aqui em Cuba, estamos sempre fazendo conta. Somos bons em matemática!”, disse ele, com certo orgulho. Me garantiu que eu poderia usar pesos cubanos, mesmo sendo turista.
Saí do salão cantando a música do rádio, de cabelo novo, confiança renovada e contente por ter, pela primeira vez em duas semanas de Cuba, uns pesos cubanos e a ilusão que ia poder me passar mais por cubana que por turista nas últimas 24 horas que teria na ilha.
You look stunning my friend!!! Está maravilhosa com o novo visual!! Miss you guys <3
Sabe em quem me inspirei, né, Paula?
Um beijo, com saudades!
Que bela crônica!!!!! Gostei da dinâmica, do ritmo, descrição, da forma como caprichosamente fui sendo engolido pela cena…
Oh! Caprichosamente? Arigatô!
Ah Chris linda!! Sempre com belos textos!! Amei!! ❤
Ahn, que querida você!
Obrigada por ler, Carol!
Gostei bastante das suas impressões e comparações ao entrar no salão. São sutilezas que, no meu ver, só acontecem em Cuba e com aqueles que procuram sair do circuito dos turistas.
Adoro Cuba.
O Guilherme me contou da vossa saga. Estou começando a ler seu blog. Estou gostando e comtinuarei a leitura.
Bjs
Oi, Silvio!
Obrigada pelo comentario! Cuba foi realmente especial, ainda repercutindo muito dentro de mim.
Vou providenciar mais textos periodicos no blog, tomara que voce continue nos acompanhando!
Um beijo,
Chris